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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os 15 minutos de fama

MOACYR SCLIAR


No quinto minuto já tinha decidido: ficaria e enfrentaria a situação. Mostraria que podia estar por cima da carne seca

A história recente tem mostrado que, após a superexposição à mídia, logo logo apagam-se os holofotes, desligam-se as câmaras, recolhem-se os microfones.
Cotidiano, 1º de outubro de 2007

No futuro, cada um será mundialmente famoso durante 15 minutos. Andy Warhol. A frase consta do catálogo de uma exposição de seus trabalhos artísticos em Estocolmo, 1968.

NO PRIMEIRO MINUTO DE fama ela reagiu com incredulidade: embora não fosse exatamente uma pessoa obscura -conhecia gente importante-, nunca imaginara que atrairia a atenção das pessoas daquela maneira. Os jornalistas simplesmente enxameavam ao redor. Ela não podia ir ao shopping ou ao restaurante, não podia sequer sair de casa: num segundo eles estavam a seu redor, crivando-a de perguntas.
No segundo minuto a sensação de desconforto aumentou; era constrangimento, misturado com estranheza, e mesmo raiva: afinal, o que esta gente quer de mim? Por que tanta foto, por que tantas câmeras apontadas em minha direção, por que tantos microfones? Por que não me deixam em paz, por que não cuidar de crimes, seqüestros, roubos?
No terceiro minuto, a angústia chegou a tal ponto que ela resolveu fugir. Desapareceria da cidade, do país. Sumiria até ser esquecida, o que, esperava, não demoraria muito.
No quarto minuto, entretanto, resolveu se acalmar. Não, não poderia tomar uma decisão precipitada, mesmo porque ela não estava sozinha naquela história; outras pessoas poderiam não gostar se ela de súbito sumisse.
No quinto minuto já tinha decidido: ficaria ali e enfrentaria a conjuntura com serenidade. Mostraria que podia estar por cima da carne seca. No sexto minuto essa nova atitude começou a proporcionar resultados. Estava enfrentando com a maior tranqüilidade o assédio da mídia e até ensinando os jornalistas sobre como proceder.
No sétimo minuto sentia-se completamente tranqüila e mesmo senhora da situação. Uma metamorfose que, claro, envaidecia-a.
No oitavo minuto deu-se conta de que era preciso organizar-se, se queria mesmo transformar o limão em limonada, em tirar o proveito possível do acontecimento.
No nono minuto começou a traçar estratégias, a criar fluxogramas. Organizada sempre fora -e aquilo era um teste para sua capacidade de administrar crises (ou, pelo menos, situações inusitadas).
No décimo minuto estava com o esquema pronto, mas então a dúvida assaltou-a: o que mesmo ela queria? A fama? O dinheiro? Ou a fama e o dinheiro, tudo junto?
No décimo segundo minuto deu-se conta: o breve instante de vacilação cobrara seu preço. Boa parte da mídia já estava interessada em outros casos.
No décimo terceiro minuto sentiu que estava perdendo a batalha. O que deixou-a verdadeiramente desesperada.
No décimo quarto minuto, sozinha em seu apartamento, sentiu-se cansada, muito cansada. O calor era infernal e o ar condicionado estava estragado. O que fazer?
No décimo quinto minuto, irritada, decidiu: tirou a roupa. E aquilo lhe deu uma idéia. Uma grande idéia sobre como fazer render os seus 15 minutos de fama. Por que não posar nua para uma revista? A fama é transitória. A nudez, ao contrário, nos acompanha por toda a vida.


MOACYR SCLIAR escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha

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