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sexta-feira, 14 de setembro de 2007
O CÉREBRO DO REICH
Arquiteto da imagem messiânica de Hitler, Josef Goebbels direciona seu talento para a política expansionista e anti-semita do Führer - Mestre da propaganda arrebanha o apoio da população para nova batalha na Europa
A serviço do 'Führer': orador hipnótico, Goebbels chefia a máquina de propaganda nazista
ntre 1907 e 1908, a Academia de Belas-Artes de Viena recusou, por duas vezes consecutivas, o ingresso de um candidato da pequena cidade de Braunau em suas fileiras. Além de apresentar trabalhos pouco originais, cópias ordinárias de gravuras ou de fotografias, o aprendiz pecava por não conseguir retratar em seus desenhos figuras humanas nas proporções corretas.Três décadas depois, esse artista enjeitado resolveu redesenhar, à sua forma, as fronteiras do Velho Mundo. E enquanto o planeta teme que as pinceladas bélicas de Adolf Hitler façam da Europa uma natureza-morta, a Alemanha, em frenesi, não pára de fornecer tintas e munição para seu Führer. Como explicar esse fanatismo quase cego de uma nação historicamente ilustrada, pátria de pensadores da estirpe de Kant, Schopenhauer e Nietzsche?Para muitos analistas internacionais, a resposta está em um homenzinho coxo, de orelhas caídas e boca solta, que atende pelo nome de Josef Goebbels. Não é exagero dizer que foi ele, o Ministro da Propaganda do Reich, quem arquitetou a imagem pública de Hitler - não apenas como líder político, mas como o Messias da nação alemã, na acepção mais sacra da palavra.Goebbels é um verdadeiro mestre em seu ofício. Foi ele o responsável pela frente de propaganda das sucessivas campanhas eleitorais que acabaram por conduzir Hitler ao cargo de chanceler. Foi ele quem cunhou e tornou compulsória a saudação Heil Hitler - "Ave Hitler", ou "Vida longa a Hitler" – entre os integrantes do partido nazista. E é ele que, com controle total sobre rádio, televisão, imprensa, cinema e teatro, consegue conquistar o apoio maçico da população às decisões de Hitler - quaisquer que sejam elas.
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Ratos e baratas - De forma peculiar e engenhosa, Josef Goebbels conseguiu transformar o trauma da derrota na Grande Guerra num aditivo para a política expansionista nazista. "Chegou a hora de nosso país exigir seu direito histórico na Europa. O elevado destino da raça superior se aproxima. O povo tem de desejar sacrificar-se pela glória do Reich. Qualquer conforto deve ceder lugar à necessidade de armas", afirmou ele.Alinhado com a política anti-semita de Hitler, também propala efeitos nocivos da presença dos judeus na Alemanha - em alguns casos, conclama a população a agir contra estes. Não custa lembrar que foi ele o mentor intelectual da Kristallnacht, a infame "Noite dos Cristais", em novembro do ano passado, quando a população, para retaliar o atentado cometido por um jovem judeu a um diplomata alemão, foi convocada a destruir sinagogas, lojas e casas da comunidade judaica. O resultado: 90 judeus assassinados e mais de 20.000 presos e enviados para campos de concentração. "Bravo, bravo", celebrou o ministro - que em suas propagandas refere-se aos judeus como "ratos" ou "baratas" -, ao tomar conhecimento do desfecho do levante.Brilhante escritor, orador hipnótico, Goebbels, nascido em berço católico na cidade de Rheydt, em 1897, incluiu o Führer como um vértice extra em sua Santíssima Trindade. Sua fidelidade a Hitler é canina. Passagens dos diários de Goebbels revelam uma admiração transcendental pelo líder: "Ele é um gênio. O instrumento natural e criativo de um destino determinado por Deus. Ele é como uma criança: gentil, bondosa, piedosa. Como um gato: astuto, esperto, ágil. Como um leão: gigante e imponente".Mas que ninguém se engane com essas comparações pueris: Goebbels é, mais do que ninguém, uma fera a serviço do Reich. Na Polônia, suas transmissões de rádio e técnicas de guerra subversiva - incluindo ameaças de uma quinta coluna pronta a atacar em território invadido - ajudaram a minar as resistências do inimigo. Se depender do Ministro da Propaganda, o Führer já pode pegar o pincel e começar a treinar a assinatura: sua grande obra-prima será concluída em breve.
VEJA, Setembro de 1939
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