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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A mídia indígena



Os povos indígenas ou do “Quarto Mundo" lutam pela preservação de seus territórios(a natureza) e resistem bravamente às invasões hostis coloniais, como a desterritorialização, o falso nacionalismo, os limites nacionais e o desuso da idéia de anticolonialista. Desta forma, a teoria pós-colonial supre a presença do “Quarto Mundo”, no qual pode ser encontrado dentro de todos os outros mundos, através dos povos denominados como “indígenas”, “tribais” ou “primeiras nações”.

Os membros do “Quarto Mundo” costumam aparecer em “filmes etnográficos”. Antigamente estes filmes buscavam oferecer ao público a “verdade” sobre estes povos, por isso os nativos eram obrigados a realizar práticas já abandonadas, sem redargüir. Os novos filmes etnográficos procuram produções compartilhadas, participativas, interativas, além de uma antropologia dialógica e uma distância reflexiva, conforme os artistas se questionam sobre a sua capacidade de se comunicar “pelo” outro.

Enquanto isso, os povos indígenas começaram a realizar suas próprias produções, quase que sem mediação. Como os filmes “Smoke Signals” (1998), “The Lone Ranger and Tonto Fistfight in Heaven”, “Once Were Warriors” (1994). Já em 1970 na América do Norte e em 1980 na Austrália e no Brasil surge uma nova forma de produção cultural, a “mídia indígena”. Ou seja, a utilização da tecnologia audiovisual pelos povos indígenas, tendo em vista os seus propósitos culturais e políticos. Trata-se de um veículo que concede poder a comunidades que lutam por seus ideais. Os produtores destes vídeos são os próprios consumidores, além de comunidades próximas e às vezes, instituições culturais, ou até mesmo festivais desta categoria. Segundo Faye GINSBURG estes produtores indígenas estão passando por um “dilema faustiano”: se por um lado, usam as novas tecnologias para a asseguração cultural, pelo outro, propagaram uma tecnologia que poderá incentivar a sua própria desintegração.

Os indígenas usaram câmeras de vídeo com a finalidade de registrar o seu entendimento sobre o meio ambiente (floresta), como também documentar a relato de histórias e mitos. Segundo TURNER, para povos como os caiapós brasileiros, o vídeo passou a constituir em si o propósito da ação social e a objetivação da consciência. Os vídeos desta tribo tiveram repercussão internacional, como a publicação das matérias no “Time” e no “New York Times Magazine”, nas quais discutem a respeito de que os “nativos” devem ser diferentes dos primitivos: os indígenas “de verdade” não utilizam câmeras de vídeo.

Para GINSBURG e Terence TURNER importantes antropólogos que estudam a mídia indígena, esse trabalho tem como finalidade à “mediação através de fronteiras, a medição de rupturas históricas e temporais”, e o crescimento do método de construção identidária através da negociação de “intensas relações com a terra, com o mito e com o ritual”. Segundo Faye GINSBURG trata-se de uma “nova forma de autoprodução coletiva”. Ao mesmo tempo, a “mídia indígena” não pode ser vista como um remédio para todos os males dos povos indígenas. Este trabalho pode causar divergências entre grupos rivais dentro das comunidades indígenas e ser conveniente pela mídia como um símbolo fácil das ironias da era pós-moderna.

Um comentário:

Marília Martins Bandeira disse...

Olá Bruna,
Sou uma curiosa da Antropologia e nesta última semanan de blogs andei espiando os nossos...

A questão da apropriação da tecnologia ocidental pelos povos tribais é sem dúvida uma questão polêmica.

Mas, o fato é que, segundo Stuart Hall, a migração e as trocas culturais, ou seja a formação de culturas transnacionais (ou até híbridas como para Canclini) constiuiu mais a regra do que a exceção na história da humanidade.

Seu post alerta para a autonomia dos povos indígenas em relação á utilização de instrumentos que acham por bem incorporar à sua realidade.

Isto é muito interessante, pois pensar em "protegê-los", mantendo-os isolados, seria mais uma atitude colonialista que descarta a possibilidade do interesse e curiosidade deles por nós...